domingo, 30 de dezembro de 2007

Deu bode na buchada!

Eu sempre curti uma comidinha baiana. Infelizmente, são poucos os lugares existentes em Vitória que trafegam com segurança nessa área. Noite dessas, em minhas andanças solitárias, resolvi parar em um boteco o qual eu já rejeitara anteriormente. Não achei que combinavam o nome (Oxe mainha) e o espaço físico (muito asséptico). Fica na Praia do Canto, no encontro das ruas Constant Sodré e Moacyr Strauch (a foto foi prejudicada: máquina ruim e o bar já estava fechado). Parei porque me falaram que um dos sócios foi (ou é) dono do Oxente, boteco originalmente da categoria bunda-de-fora, mas que tinha uma cozinha bastante honesta (espero que não tenha fechado). Outro motivo: há muito tempo eu não comia sarapatel, um prato que eu gosto de degustar pelo menos uma vez por mês, acompanhado por uma cerveja gelada. Sentei-me e pedi o cardápio. O som alto da tv expulsou-me para a varanda, apesar do calor. Com algum esforço, os garçons me informaram que o sarapatel é um prato para duas pessoas (o preço variava entre R$24,00 e R$28,00). Achei excessivos a quantidade e o preço. Pedi um prato de R$9,80 (um tipo de buchada de bode/carneiro, em miniatura) e uma cerveja. Sabe-se que o bode é um bicho fedido por natureza; convém, pois, dar um trato no animal porque senão a inhaca toma conta. E foi justamente o que eu senti: o buquê do prato era o indefectível cecê de bode. Em nome da reportagem-verdade, respirei fundo e encarei o prato. Aí, prezado navegante, constatei porque o bode consegue digerir até lata de cerveja: o seu bucho é um bom substituto para pneu. Convinha que as vísceras (bucho incluído) passassem maior tempo em algum tipo de fervura para amaciar e reduzir a inhaca. Soube por colegas, também apreciadores da comida baiana, que o mesmo aconteceu com o sarapatel: cheiro ostensivo e inibidor. Obviamente, lá não retornarei, mas torço para que dêem um banho no bode. Do jeito que está não serve nem para despacho.

9 comentários:

ReAl disse...

Buonaboca,
Respeito seu espírito aventureiro. A população de Vitória, e os visitantes, agradecerão seu esforço. Mas, e o resto do cardápio? Você vai encarar?

Damn disse...

Tem que ter coragem para comer buchada de bode, mas tem que ter mais ainda para comer o bode aí, nesse buteco.

Só perde para o pastel de angu.
Nada pior.

Damn disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
John Lester disse...

A iniciativa faria algum sentido em Sampa ou no Rio, onde existem centenas, quiçá milhares, de excelentes botecos, com aquele chop geladíssimo em intermináveis serpentinas e aquela empadinha de camarão cinza médio. Até os botecos, e, talvez, principalmente eles, demandam tradição. O limo verde-musgo no alumínio do balcão e o garçon que trabalha ali há 60 anos são características determinantes nesse tipo de escolha. Aí sim, um guia teria serventia.

Eu, por mim, não recomendo nenhum boteco em Vitória ou Vila Velha. Exceto ao amigo que não se importa em beber chop quente, sem bons tira-gostos.

Dos restaurantes, salvam-se apenas dois: Lareira (bacalhau) e Taurus (carne). Nos dois a comida é boa, o banheiro limpo e o preço honesto. A Gramado é uma churrascaria simples, porém a carne é boa e servida quente, a preços moderados.

De resto, muito engana trouxa, como o Aleixo, Mercador, Oriundi, etc, todos com comida sofrível e preços ridiculamente altos.

Grande abraço, JL.

Chef Buonaboca disse...

A idéia é simples: mesmo na sordidez é possível achar algo saudável ou nem tão saudável, mas gostoso. E, com certeza, é possível encontrar cerveja gelada na região metropolitana (chopp,apesar de pobre, também). Afinal, para muitos, esse é o melhor dos mundos possíveis. É o que está ao alcance da mão e do bolso (às vezes).

John Lester disse...

Desde o colégio os meninos têm essa mania de comparar os tamanhos de suas carteiras.

A questão não é dinheiro. Há centenas de excelentes botecos baratos no Rio e em Sampa.

A questão é a reduzida quantidade de eventuais recomendáveis botecos em Vitória e Vila Velha, o que retira o sentido de um 'guia'. Bastaria uma lista, se tanto.

Aliás, se conseguirmos nos concentrar no tema do blog e do meu comentário, que não é dinheiro ou tamanho de carteira, podemos indicar apenas um boteco em todo o ES: trata-se do Espaço Vellozia, em Domingos Martins (acesso pelo km 89,5 da BR-262). Telefone (sim, botecos também têm telefone): 27-3248 0097. Fecha em novembro. Ali sim você come um cordeiro com arroz de ervas e purê de banana ou um confit de pato com risoto de tomate seco dignos de um bom beira de estrada.

Nota: os preços são de mãe para filho.

Grande abraço, JL.

Chef Buonaboca disse...

Valeu a dica. Quando eu resolver subir a montanha, farei uma boquinha nessa parada. Mas já vi que você trafega em outra área. Não acredito que possamos nos encontrar em nenhum copo-sujo da vida (ou morte). A questão tem a ver com grana, sim. Aliás, esse é um dos pontos destacados no editorial (ao lado). E isso não se resume à comparação infantil do "tamanho da carteira". Ao que parece, você está preocupado com o tamanho da sua. Não se sinta culpado por ser um "bem dotado", ou um punido por Deus por não ser. A questão é: como ter prazer com o que se tem. Como não estamos no Rio nem em Sampa, a gente tem que se virar com os parcos recursos dos ilhéus e adjacências. Se isso não é problema para você, ótimo. Se é, o Rio é logo ali, e Sampa logo depois. Boa viagem.

John Lester disse...

Prezado Chef,

Não vejo qualquer correlação entre boa comida e alto preço. Mas respeito a opinião de um especialista.

Mas fica o convite: pelos 10 real investidos no rude bode, posso preparar um suculento filé ao molho carmenere. O sal grosso que recobre toda a carne, assim assada, é por conta da casa.

Sabe, aprendi desde pequenino que, quando se ganha pouco, é preciso gastar certo. Aqui, ali ou acolá.

Grande abraço, JL.

Chef Buonaboca disse...

Putz, parece que eu estou falando grego. Cobra-se muito por algo que não vale um quarto. A intenção é justamente mostrar que com "dez real" pode-se beliscar bons petiscos (como também é possível se envenenar com 100).
Ps - abre o boteco, que eu vou lá comer o tal filé.